ENTREVISTA DE AUGUSTO ÍNSUA PEREIRA AO DIÁRIO DE AVEIRO
No passado dia 22 de Março o jornal "Diário de Aveiro" publicou uma entrevista que o Augusto Ínsua Pereira, Presidente da Associação Regional de Badminton de Aveiro e Chefe da Secção de Badminton da Associação Académica de Espinho, deu ao Prof. Fernando Gouveia.
Dado que o texto ali dado ao público não contém a totalidade da entrevista concedida, o nosso blog publica aqui a cópia original e integral.
O título e a introdução são da responsabilidade do "Diário de Aveiro".
“A
modalidade na nossa área vive da boa vontade de todos…”
O advogado e antigo atleta natural do Porto,
aos 47 anos, vai gerir os destinos da modalidade no distrito, até 2013.
Augusto Pereira iniciou a prática da
modalidade aos 13 anos no Liceu Alexandre Herculano, no Porto, filiando-se pela
primeira vez na Federação Portuguesa de Badminton na época desportiva de 1978
/ 79, em representação do Estrela e Vigorosa Sport. O CDUP, Centro Desportivo
de Espinho e a Associação Académica de Espinho, foram os outros clubes que
representou enquanto atleta.
Em 2011 Augusto Pereira tomou posse como
presidente da Associação Regional de Badminton de Aveiro, para um mandato que
termina no próximo ano.
- Qual a sua opinião, para a distribuição
de clubes por três Zonas Continentais (Norte, Centro e Sul) e duas Insulares (Açores
e Madeira) em virtude de apenas existirem 50 clubes filiados?
Perante o estado de subdesenvolvimento da
modalidade, a situação económica do País, as grandes dificuldades económicas
dos clubes, associações regionais e Federação, parece-me que fará todo o
sentido criar uma divisão geográfica que permita a disputa de maior número de
competições regionais, com um melhor aproveitamento dos parcos recursos humanos
e financeiros disponíveis. Mas, para tal, será necessário que a inovação surja
por iniciativa dos interessados e nunca por imposição administrativa, ou seja,
deverão ser os interessados a projectar e a colocar em prática um novo modelo
organizativo.
- A FPB, com sede em Caldas da Rainha,
dispõe de infra-estruturas que a colocam como sendo a mais bem apetrechada das
federações nacionais, mas geograficamente está longe de tudo. Qual a sua
opinião se fossem criadas duas Delegações, uma no Porto e outra em Lisboa?
Não sei se a FPB é a mais bem apetrechada das
federações nacionais em termos de infra-estruturas, porque penso que a
existência de um Centro de Alto Rendimento nas Caldas da Rainha não é uma
infra-estrutura muito importante para o desenvolvimento da modalidade, além de
que a parte residencial do centro de estágio instalada na sede da FPB é pequena
e tem condições abaixo do exigível. Além disso, não entendo como não se
aproveitou a construção do CAR para transferir o Centro de Estágio para as suas
luxuosas instalações. Tenho tido alguns contactos directos com a realidade
espanhola e aí, as coisas são bem diferentes. Existem uns 6 ou 7 Centros de
Treino espalhados pelo país que, sem terem luxos, são extremamente bem dotados
e apetrechados a todos os níveis. Em Dezembro visitei o Centro de Treino das
Astúrias, em Oviedo, o qual se encontra instalado dentro da cidade
universitária, num complexo desportivo muito simples mas com tudo o que é
necessário para o efeito, inclusive a utilização de uma residência estudantil,
onde os atletas permanecem, querendo, em regime de internamento ou
semi-internamento.
Claro que o CAR das Caldas da Rainha, único no
país, pouco vai contribuir para o desenvolvimento da modalidade, especialmente
em termos de aumento do número de atletas, mas também quanto ao desenvolvimento
técnico dos nossos atletas, pois muito poucos ou quase nenhuns têm ou poderão
vir a ter condições para permanecerem nas Caldas da Rainha ou de para ali se
deslocaram para treinar.
Pelo que o modelo a seguir devia ser o da
criação de Centros de Treino em cidades ou zonas Universitárias, como o Porto,
Aveiro, Coimbra, Lisboa e Algarve. Quantos? De preferência três. Além de que a
situação da Madeira e dos Açores precisa de ser muito bem discutida e pensada.
- O intercâmbio do badminton Escolar e o
Federado não está a beneficiar a modalidade. O que aconselha?
Como sabe tenho tido alguns contactos com a
realidade do badminton do Desporto Escolar. E uma coisa tenho que dizer: os
principais culpados pelo facto de não ingressarem mais atletas na vertente
federada da modalidade é da responsabilidade dos agentes desportivos ligados à
mesma, a saber, clubes e associações regionais. Se uma relação não funciona, a
culpa de tal facto nunca é de uma só parte e nós, ligados ao movimento
associativo, temos que fazer muito mais para que possamos aproveitar o trabalho
que se faz nas escolas. Posso dizer, que devido ao contacto que se estabeleceu
em Espinho e em Esmoriz com duas escolas, entraram na Académica de Espinho nos
últimos dois anos uns 30 novos atletas, - o que é muito bom -, sendo certo que
o Engº Luís Pinto continua a desenvolver relações e a promover actividades com
essas e com outras escolas, o que vai permitir trazer para a modalidade cada
vez mais jovens. Assim, o que eu aconselho é que os dirigentes e os treinadores
de badminton consigam ir às escolas ver o que lá se passa e consigam criar
relações de confiança com os professores responsáveis pelo badminton nas
escolas, pois estes nunca quererão impedir que os seus alunos se desenvolvam
enquanto atletas e, portanto, querem sempre que eles vão para clubes onde
possam desenvolver as suas capacidades desportivas e onde se possam integrar
desportiva e socialmente.
- A FPB para possibilitar a ocupação do
Centro de Alto Rendimento, veio prejudicar os clubes, obrigando-os a
deslocarem-se a Caldas da Rainha, para disputarem ao longo da presente época
desportiva 30 competições. Qual o seu comentário?
Tal situação, na minha opinião, é aberrante e
nem a excelente qualidade das instalações do CAR pode motivar os atletas e os
clubes a terem que ali se deslocarem tantas vezes. Com a falta de capacidade
económica dos clubes, as despesas com as deslocações e com a participação nas
competições acaba por ficar, na maioria das vezes, a cargo dos atletas (ou dos
seus pais). Ou seja, estamos a tirar clubes e atletas das competições, apenas
participando um restrito número, que tem possibilidades económicas. Isto
equivale a dizer que estamos a colocar atletas fora da modalidade.
- Quais os objectivos da ARBA até ao
final da presente época desportiva?
Os novos Corpos Gerentes da ARBA tomaram posse
em Julho passado, tendo herdado uma conta bancária com 36 euros! Não sei com
que intenções, a anterior Direcção decidiu esvaziar o “cofre” e no final do
mandato distribuiu em subsídios todo o dinheiro que tinha acumulado numa conta
bancária. A falta de dinheiro, desde logo, limitou a nossa capacidade de acção.
Mas como a equipa a que presido é composta por pessoas que não pensam em
desculpas, elaboramos um extenso Plano de Actividades, que está a ser cumprido
e que é composto por um grande número de competições regionais e nacionais,
individuais e de equipas, organizadas quer pela ARBA quer por clubes associados,
em colaboração com aquela. Já se disputaram e vão-se disputar até ao final da
época competições para escalões de iniciação (os chamados Torneios de
Divulgação), em que participam, além de atletas filiados em clubes, alunos de
várias escolas, bem como provas para atletas federados, seniores e não
seniores. Além disso, já tivemos acções de formação destinadas a técnicos e
monitores dos nossos clubes, situação que se vai, também, repetir. De referir,
também, que já se verificou a deslocação de treinadores qualificados aos clubes
com mais dificuldades quanto à competência dos seus técnicos, bem como a
realização de estágios de desenvolvimento nas férias escolares. Posso também
indicar que, num primeiro passo de aproximação à Associação de Badminton do
Norte, algumas das nossas actividades (competições e estágios) têm tido a
participação de atletas de clubes filiados na mesma, por forma a aumentar a
qualidade das mesmas.
Portanto, até ao final da presente época o
principal objectivo da ARBA é dar cumprimento ao extenso Plano de Actividades
que foi elaborado, criando nos clubes a certeza de que, agora, têm à sua
disposição uma entidade promotora da modalidade e próxima dos mesmos.
- Qual a situação da comunidade escolar
relativamente aos Torneios de Divulgação?
Os Torneios de Divulgação são um excelente
instrumento para canalizar para o desporto federado um bom número de jovens que
tiveram um primeiro contacto com a modalidade através dos clubes e das escolas.
Apesar do grande aumento de participantes vindos das escolas nessas provas (a
que eu gostava de chamar Acções de Divulgação), estou pouco satisfeito com a
adesão das escolas a este modelo de torneio. As escolas que têm participado são
aquelas cujos professores responsáveis pela modalidade são pessoas que já se
encontram ligados à modalidade, havendo uma ou outra excepção. Isto porque, em
geral, os professores, que já organizam as provas do Desporto Escolar, que se
realizam ao Sábado de manhã, não têm disponibilidade para acompanhar os alunos
a competições que se disputam durante a manhã e a tarde de Sábado.
- Perante a grave instabilidade económica
e social, como será o futuro da modalidade em Portugal?
Apesar de querer e de gostar de ser optimista,
penso que os responsáveis pela modalidade – e falo de dirigentes, atletas,
treinadores – não percebem que muitos de nós trabalhamos empenhadamente para
desenvolver uma modalidade, mas que estamos nas mãos de uma cúpula dirigente
que conseguiu ao longo dos quase 20 anos que leva à frente da Federação fazer
diminuir drasticamente o número de atletas e de clubes. Este facto é
indesmentível. Os números não enganam. Achar os responsáveis é muito fácil.
Agora há que perguntar: vamos continuar a ser dirigidos por quem tem mostrado
tanta incompetência e incapacidade? Por quem, inclusivamente, tem prolongado
ilegalmente a sua permanência nos cargos que ocupa? Sem a introdução de pessoas
na Federação portadoras de maior capacidade intelectual e profissional,
infelizmente a modalidade não se vai desenvolver. É necessária a criação de
gabinetes federativos nas áreas do marketing e das relações económicas e é
preciso fazer muito trabalho nessas e em outras áreas específicas, onde é
necessário colocar pessoas qualificadas e disponíveis. Bem como é preciso
aproveitar algumas pessoas competentes e experientes que actualmente estão na
modalidade. E não vejo a actual cúpula dirigente a apresentar projectos nesse
ou em qualquer outro sentido.
- Comparativamente com países europeus de
grande dimensão competitiva, Portugal tem ainda um número muito reduzido de
atletas federados. Qual será a solução, para que haja uma substancial aderência
de novos praticantes?
O badminton surgiu na minha vida logo após o 25
de Abril de 1974 e, assim, tive a oportunidade de assistir à enorme explosão
que a modalidade sofreu nos anos seguintes. Nesse tempo verificou-se um enorme
desenvolvimento do movimento associativo, da prática desportiva em geral e,
sobretudo, do desporto escolar. Tive oportunidade de presenciar torneios para
não federados com centenas de participantes e tive conhecimento da realização
de torneios em Lisboa – os Torneios do Liceu Pedro Nunes -, para atletas
federados, com cerca de 1000 participantes. Tudo isto aconteceu porque as
escolas e os professores de Educação Física aderiram ao movimento associativo e
levaram os alunos a praticar desporto. Eu comecei a jogar badminton no Liceu
Alexandre Herculano, no Porto, onde todos aqueles que alguns anos mais tarde
constituíram a equipa campeã nacional da 1ª Divisão pelo Estrela e Vigorosa
Sport, começaram a praticar a modalidade.
É isto que hoje tem que acontecer. Primeiro uma “revolução”
na modalidade, para que, depois, seja possível que os alunos que começam a
jogar badminton nas escolas prossigam na modalidade, quer nas próprias escolas
quer nos clubes.
- Como divulgar melhor esta modalidade
olímpica?
Não é fácil fazer a divulgação do badminton. A
lógica dos “media” é a da venda de jornais. Um amigo meu, editor de um dos
principais jornais desportivos nacionais, dizia-me, há tempos, que se sugerisse
a publicação de uma notícia sobre badminton com ¼ de página, seria despedido,
porque o seu chefe estava preocupado, simplesmente, com o nº de jornais que
iriam ser vendidos por aquela notícia.
O certo é que, recentemente, um jornal de grande
tiragem publicou uma entrevista de uma página inteira com o melhor atleta
português da actualidade, a respeito da qualificação olímpica que o mesmo está
a fazer.
O segredo está aqui. No aproveitamento das
qualificações olímpicas e das participações dos jogadores de badminton nos
Jogos Olímpicos. Se tivermos quem saiba fazer o aproveitamento desses fenómenos
através de uma divulgação profissional e intensiva, então podemos divulgar
melhor a modalidade.
- Qual a necessidade da formação e
informação a treinadores, no âmbito da ARBA?
No desporto a formação de técnicos é essencial.
Na área de intervenção da ARBA há carência de treinadores activos. Temos vários
clubes em que os treinadores são monitores sem formação e com muito pouco
contacto com a modalidade ao nível do treino, pelo menos. Face à reduzida
formação de treinadores promovida pela Federação, temos levado a efeito algumas
acções de formação para os membros dos clubes nossos filiados. Neste momento
está a decorrer uma Acção de Formação, destinada a professores de Educação
Física, que vai habilitar várias pessoas com a Carteira Profissional de
Treinador de Badminton, depois de eu, pessoalmente, ter feito os contactos
necessários para que um Centro de Formação Escolar realizasse a acção.
Felizmente, hoje temos dois membros no Conselho Técnico da Associação que são
profissionais da Educação Física e que conseguiram que a acção se realizasse. Mas,
a este nível, há muito mais para fazer, porque temos poucos treinadores e,
sobretudo, poucos Professores de Educação Física com formação de badminton e
esta falta de formação leva a que aconteçam grandes aberrações no contacto dos
alunos com a modalidade. Valha-nos o facto de termos bons treinadores, como é o
caso do Jorge Pitarma, que trabalhou nas selecções nacionais durante 7 anos e
que agora desenvolve um excelente trabalho quer na ARBA quer no Clube de
Albergaria e na Académica de Espinho.
- Antigamente a FPB atribuía verbas às
Associações Regionais conforme o número de clubes e atletas. E agora?
Desde que tomei posse, em Julho, não tenho
conhecimento de qualquer subsídio desse género. A Federação, aliás, nunca
tentou encetar nenhum contacto institucional com a ARBA acerca dos projectos ou
da actividade da ARBA. Isso é, no mínimo, estranho, mas só para quem desconhece
a realidade do dirigismo do badminton português, mas significa, simplesmente,
que a Federação não tem nenhum projecto para a modalidade e não quer saber dos
projectos daqueles que estão a trabalhar para o badminton.
- Em 1996 havia 12 clubes filiados na
ARBA, presentemente são apenas 5, a que se deve esta situação?
A modalidade na nossa área vive exclusivamente
da boa vontade de todos os dirigentes, treinadores e monitores. Perante a falta
de projectos credíveis, perante a falta de qualidade das decisões dos que
tutelam a modalidade, dada a existência de grandes ofertas alternativas em
termos desportivos, temos visto muita gente a afastar-se. Os modelos competitivos
têm mudado a um ritmo quase anual, sendo que todos eles acarretam grandes
exigências económicas aos clubes e atletas. Assim, não há muita gente que
aguente …
- Qual
o grande sonho da ARBA?
A criação de um Centro de Treino, a funcionar em
instalações condignas, com técnicos profissionais, a prestar serviços aos
clubes e à escolas, quer ao nível básico da formação de jogadores e técnicos,
quer ao nível da competição a níveis qualitativos mais elevados.
Sem comentários:
Enviar um comentário